A Arte da Enologia Através dos Olhos de Victoria Brond

Este artigo foi redigido após a participação da renomada enóloga argentina Victoria Brond no Clube da Vinha. Durante esse encontro enriquecedor, compilei insights dessa conversa inspiradora, onde Victoria compartilhou conosco sua notável jornada na enologia e seu profundo envolvimento com a biodinâmica. Leia mais...

8/23/20243 min read

Victoria Brond ocupa atualmente o cargo de Gerente de Enologia e Operações na prestigiosa Bodega Alpamanta, uma vinícola argentina reconhecida por sua prática de vitivinicultura orgânica e biodinâmica certificada. Recentemente, foi honrada com o título de Enóloga Revelação do ano pelo Guia Descorchados, destacando-se em um campo altamente competitivo.

Sua jornada iniciou ainda jovem, ingressou no mundo da enologia, incentivada por sua mãe a estudar na escola de enologia em Mendoza. Durante o ensino médio no Liceu Agrícola, ela conseguiu conciliar seus estudos regulares com o aprendizado técnico da enologia, uma paixão que a acompanhou até a universidade. Lá, ela se destacou como uma das poucas mulheres em um campo predominantemente masculino (apenas 3 mulheres em uma turma de 30 alunos), refletindo as limitadas oportunidades para mulheres em cargos de liderança na indústria.

Apesar dos desafios enfrentado pelas mulheres na indústria vitivinícola, Victoria trilhou um caminho de determinação e excelência, acumulando experiência em instituições de renome como o Instituto Nacional de Vitivinicultura em Mendoza, e em prestigiadas vinícolas como Bodega del Fin del Mundo, Chandon e Nieto Senetiner, antes de se firmar na Alpamanta, onde está prestes a iniciar sua sexta vindima.

Quando questionada sobre sua transição para a biodinâmica e a antroposofia, Victoria compartilhou sua perspectiva inspiradora: "Quando me perguntam como cheguei à biodinâmica, eu digo que criei essa realidade. Acredito no poder de transformar aspirações em realidade e sempre estive conectada ao trabalho com energias e forças no campo."

Com uma perspectiva apaixonante, ela descreve a biodinâmica como um caminho de autoconhecimento facilitado pela "desculpa" da uva e do vinho. Para ela, o vinho atua como uma ferramenta que nos ensina profundamente sobre nós mesmos, revelando-se muito mais do que apenas uma bebida. Segundo ela, a agricultura biodinâmica opera no reino das forças invisíveis, onde a energia não pode ser vista ou tocada, mas deve ser sentida e compreendida através da conexão humana com essas forças.

Victoria enfatiza quatro pilares essenciais para a produção de uvas e vinhos biodinâmicos: o calendário biodinâmico, que guia as práticas agrícolas pelos ciclos lunares e planetários para promover um equilíbrio natural; as coberturas vegetais, que protegem o solo e fomentam a biodiversidade, criando um ecossistema sustentável; o composto biodinâmico, enriquecendo o solo com nutrientes vitais; e as preparações biodinâmicas, derivadas de plantas medicinais, minerais e esterco, que fortalecem a vitalidade das plantas e do solo.

Mas ressalta que esses elementos não apenas restauram a arte da observação, mas também reconectam os viticultores aos processos naturais mais fundamentais. Seguindo a visão de Rudolf Steiner, a biodinâmica busca restaurar essa conexão ancestral, oferecendo um caminho rico em sabedoria e significado para aqueles que se dedicam a entender e aplicar esses princípios na viticultura contemporânea.

Victoria partilha, com uma clareza e simplicidade encantadora, sua visão da agricultura biodinâmica,  destacando-a não como um extremismo, mas como uma oportunidade ímpar de restaurar a conexão essencial entre humanos e natureza. Para Victoria, a biodinâmica transcende a mera proibição de insumos convencionais, como produtos químicos e organismos geneticamente modificados. Em sua concepção, ela enfatiza a valorização integral dos reinos da natureza – mineral, vegetal, animal e humano –, visando promover um ecossistema harmonioso e equilibrado.

Para Victoria, esta abordagem não se limita a técnicas agrícolas, mas representa uma jornada de autoconhecimento através da observação atenta dos ciclos naturais. Ela acredita que a agricultura biodinâmica não apenas produz vinhos excepcionais, mas também oferece uma oportunidade de reconectar-se com os sentimentos e processos internos. Ao honrar os ritmos naturais, Victoria inspira uma nova esperança de que é possível cultivar vinhos que não só deleitam o paladar, mas também alimentam a alma.

A trajetória de Victoria exemplifica não apenas o talento e a visão na enologia, mas também o compromisso com práticas que respeitam e promovem a harmonia entre a natureza e o vinho, consolidando seu papel como uma figura influente e inspiradora na indústria vitivinícola internacional.